Friday, May 26, 2006

 

Turismo "Made in Mozambique"

De olhos postos no mundial de 2010


Por Teodósio Bule


Nos últimos dias, foram levantadas várias questões pertinentes sobre o futuro do desporto e do turismo nacionais, por causa da derrota nada surpreendente de Moçambique na corrida à organização do Campeonato Africano das Nações (CAN), a ter lugar em 2010, ano em que a África do Sul receberá a fase final do campeonato mundial de futebol.

O Governo já reiterou o seu apoio à revitalização do desporto nacional, pela voz do Presidente da República, para quem a impossibilidade de organizarmos a edição de 2010 da prova máxima do futebol africano, não é o fim da caminhada. Palavras sábias, que devem ser ouvidas com inteligência, para um maior aproveitamento das oportunidades que o ano de 2010 traz para a região austral de África.

O ambiente internacional é altamente competitivo, os erros não passam despercebidos, e podem até comprometer o nosso estatuto de seres racionais. A falta de capacidade organizativa da nossa comissão de candidatura para o CAN/2010, suponho, bem como a gritante falta de sensibilidade política, cultural, e até racial, ao fazer operação de charme com duas figuras que estiveram na primeira linha da organização do recente Euro2004, na qualidade de cidadãos de Portugal (Europa!!!!), levou-nos naturalmente à exclusão, logo na primeira fase.

2010 exige de nós alto sentido de oportunidade, e devemos estar cientes de que muitos estrangeiros não desperdiçarão as oportunidades aqui no nosso território, mas depois irão repatriar os lucros, como é seu direito. Lucros sobretudo resultantes das actividades no sector do turismo, pois é certo que se irá registar no país um grande fluxo de turistas, nos próximos anos.

Só poderemos tirar maior proveito de tal fluxo de turistas, se eliminarmos o "borlismo" (free riding) que infelizmente nos caracteriza. Uma economia que apenas se contente com as iniciativas dos operadores estrangeiros na promoção de pacotes turísticos que envolvam o seu espaço territorial, transforma-se numa simples passagem de dinheiro dos países ricos consumidores de produtos turísticos, para outros países realmente produtores de bens e serviços turísticos.

É, por isso, urgente uma estratégia nacional vencedora. Uma estratégia que releve o aspecto turístico do desporto, e resulte numa maior exposição externa do país. Para tal, a marca made in Mozambique deve ser mais arrojada na utilização de capacidades humanas nacionais, e deve reflectir aquilo que o resto do mundo espera de um país africano, feito por africanos, não descurando, no entanto, parcerias inteligentes com aqueles que possam acrescentar maior valor.


Acima de tudo, Turismo made in Mozambique deverá ser sinónimo de Conceito made in Mozambique, num reconhecimento claro dos nossos pontos fortes, para contornar as nossas desvantagens em termos materiais. No mercado turístico, em particular, é contraproducente comprar ideias de cidadãos de outros países, e muito menos ideias de cidadãos oriundos de países altamente desenvolvidos neste sector. Está em jogo a concorrência, o conhecimento da nossa realidade, mas sobretudo o conhecimento do nosso projecto comum enquanto Nação.


Artigo inicialmente publicado na minha coluna mensal RENASCENÇA, do caderno de Economia&Negócios, do jornal "notícias" (Moçambique), edição de 26 de Maio de 2006.

Thursday, May 18, 2006

 

Tu e eu vamos "tshunar" Maputo




POR Teodósio Bule


Quando regressei ao país em 2005, depois de muitos e longos anos em aventuras académicas e profissionais pela Europa e África Austral, o meu maior receio era o de eu também aceitar como normal o estado de coisas na cidade de Maputo. Porque, no meu entender, uma cidade é aquilo que os seus habitantes querem que ela seja, e que achem normal e aceitável.

Aterrorizava-me a ideia de achar normal uma cidade de ruas esburacadas, lixo mal-acondicionado, árvores secando por causa de urina humana, barracas em cada esquina, poluição de toda a espécie, com particular destaque para a poluição sonora.

Custava-me ver gradeamentos em edifícios que não foram inicialmente concebidos para tal, sobretudo porque viví em cidades onde não se fecham cortinas, pois os habitantes daqueles pontos da Europa, dizem que não receiam qualquer molestação, apesar de serem muito ricos.

Era, para mim, revoltante constatar que a cidade não respondia ao aumento do parque automóvel, uma situação inaceitável, porque, para um melhor escoamento do tráfego, basta adoptar conceitos inovadores e simples, sem grandes encargos financeiros, e sem sequer necessitar de construir novas vias.

Mas agora tenho motivos para sorrir. A julgar pelas obras levadas a cabo no Jardim dos Namorados, Praça 25 de Junho (na baixa), Jardim Nangade (antigo Jardim Dona Berta), e na Av. 24 de Julho, só para citar alguns casos, há razões de sobra para acreditar que Comiche não está a brincar, quando diz que tu e eu vamos mudar Maputo.

Maputo está, de facto, a mudar. Para melhor. Muito melhor! Maputo está a ficar literalmente tshunada! Num futuro muito próximo, o fornecimento de água em Maputo será ininterrupto. O escoamento do trânsito vai melhorar muito, quando os automobilistas se habituarem às novas regras de circulação, que passam, por exemplo, pelas já estabelecidas vias de sentido único.

E o lixo?, perguntam alguns. Que tem o lixo?, replico. Há maningue lixo espalhado na cidade, tás cego ou fazes-te?!, revoltam-se, incrédulos!

Ora antes de reclamarem o que quer que seja sobre o lixo, bradas, talvez valha a pena pensarem antes no que fazem ao lixo que produzem diariamente. O vosso sentido de justiça levar-vos-á, certamente, a constatar que a quantidade de lixo depositado no contentor não é suficiente para provocar ruptura do sistema de recolha de lixo. Os contentores de lixo estão sempre a abarrotar porque os utentes não têm o cuidado prévio de separar o lixo.

É básico que as embalagens devem ser espalmadas, para ocuparem menor espaço, e devem ser separadas dos resíduos orgânicos. E temos que evitar levar para casa tantos sacos plásticos, quando fazemos compras. O saco plástico novo que gratuitamente nos dão no supermercado não é xilungo, é violência contra o meio ambiente!

Uma versão deste texto foi publicado na minha coluna semanal, TEOsofias, do semanário mundo9, de 16 a 23 de Maio de 2006.

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