Friday, February 02, 2007

 

Agricultura hoje

POR Teodósio Bule

Para ser sustentável, a agricultura deve observar regras científicas. Esta é uma constatação muitas vezes repetida por dois amigos meus, técnicos agrários e jovens agricultores de sucesso. Um deles é igualmente meu primo, a quem devo grande parte dos conhecimentos e experiência na agricultura, no que diz respeito à produção primária.


De facto, a economia mundial é cada vez mais uma “economia do conhecimento”. A criação da riqueza depende, em grande medida, das indústrias geradoras de maior valor acrescentado, baseadas no conhecimento científico, utilizadoras de mão-de-obra altamente qualificada, como sejam os serviços financeiros e educacionais, bem como as telecomunicações e novas tecnologias da informação e comunicação.

O desempenho dos países nas indústrias acima mencionadas é que irá determinar a sua competitividade económica no presente século XXI. Sabemos que os países desenvolvidos do Hemisfério Norte, actualmente com grande capacidade e vontade para alocar recursos no desenvolvimento destas indústrias, são naturalmente os grandes vencedores e líderes da economia mundial.

Mas precisamos ler com cautela estes factos. Desde logo, na “economia do conhecimento” podemos não estar a falar de concorrência entre países, mas sim de concorrência entre empresas ou indústrias, independentemente da sua localização geográfica - é a globalização! Mas para facilitar a análise, vamos considerar aqui a concorrência entre países.

Embora o lugar da agricultura no contexto da globalização ou da “economia do conhecimento” seja incontestável, uma vez que alguma da tecnologia de ponta que se produz é igualmente aplicada na agricultura, há no entanto uma percepção generalizada e infundada de que a agricultura é um sector de actividade isolado das restantes actividades económicas baseadas na ciência e tecnologia. Há uma tendência para ignorar, pura e simplesmente, o carácter transversal da agricultura.

Aqui no nosso país, onde a agricultura é predominantemente uma agricultura de subsistência, a adopção de métodos inovadores de produção e gestão dos negócios é insignificante. O rsultado é sobejamente conhecido: baixa produtividade, baixos níveis de produção, inadequação do produto às exigências do mercado, para além da falta de perspicácia na identificação de oportunidades de negócio no sector, só para citar alguns exemplos.

Ora não há argumentos plausíveis para que alguém que pratique agricultura para seu próprio sustento não adopte práticas inovadoras de produção e gestão. Porque as inovações não são necessariamente onerosas. As vezes, basta alterar a forma como se semeia uma determinada cultura, ou como se alimenta um determinado animal, para termos resultados substancialmente diferentes e satisfatórios.

A agricultura é ciência. E é assim que ela deve ser encarada, sob pena de não concretizarmos o nosso potencial num sector que ainda nos é claramente vantajoso em termos comparativos. Não faz mais sentido ouvirmos passivamente expressões do tipo “fazemos-assim-porque-é-assim-que-os-nossos-antepassados-faziam”, afirmações muitas vezes proferidas por alguém que inadvertidamente vai interrompendo a conversa para receber telefonemas ou “bips” no seu telemóvel, algo que decididamente os seus antepassados não faziam!


Artigo inicialmente publicado na minha coluna mensal “RENASCENÇA”, do caderno de Economia&Negócios, do jornal “notícias” (Moçambique), edição de 2 de Fevereiro de 2007.

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