Wednesday, October 19, 2016
O Triunfo dos Porcos
POR Teodósio Bule
Todos os Animais são Iguais
Mandamento 7 do Animalismo
George Orwell
Há 41 anos, Samora Machel, o homem que queria fazer da educação um instrumento para o povo tomar o poder em Moçambique, estabeleceu no país as condições mínimas para que tal se concretizasse, por via de uma priorização real e efectiva dos sectores da educação e saúde nos seus programas de governação.
Este ano, em pleno mês da proclamação da independência nacional, o actual chefe de Estado, Filipe Nyusi, foi à mais antiga universidade do país dizer que aquela entidade tem estado a prestar um mau serviço à nação, pois os seus graduados não são capazes de responder aos mais elementares desafios do país.
Na verdade, o que devemos aferir das palavras do Presidente Nyusi é que a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) atribui diplomas a pessoas que não estudaram o suficiente para os obter. E isso é, efectivamente, visível e mensurável em alguns diplomados daquela instituição de ensino superior, sendo os parlamentares e membros do Governo aqueles que revelam as maiores lacunas.
Infelizmente não conheço a UEM a ponto de emitir uma opinião informada sobre a qualidade dos cursos que oferece. O pouco que sei resume-se aos pronunciamentos públicos e privados de alguns dos seus antigos estudantes, como é o caso do douto docente de Letras que insiste em afirmar que “não há poesia sem versificação!”...
De qualquer modo, cumpre-me o dever de defender a Academia e os verdadeiros académicos, pois sou pelo princípio de que ao docente cabe a responsabilidade de transmitir com rigor os conhecimentos científicos, mas não lhe cabe o ónus daquilo que o estudante percebe ou assume ter percebido, sobretudo em sociedades orwellianas como parece ser o caso.
Na Farma dos Animais, de George Orwell, com a vantagem de serem habilidosos na leitura e aprenderem com facilidade, os porcos assumiram naturalmente a liderança da sua auto-proclamada república, dirigindo e supervisionando o trabalho dos outros animais. Eles acabam por não trabalhar, propriamente, dedicando-se apenas à liderança e supervisão, uma vez que eles são donos de conhecimentos maiores.
Ora por cá – ó desgraça! – tem-se enraizando a ideia de que o mais importante é o diploma e não aquilo que o mesmo pressupõe, uma vez que a liderança já está conquistada. E assim se vai avacalhando o sistema de educação sonhado e introduzido por Samora.
A condição de animal mais igual do que os outros requer, conforme o provaram os porcos da Fazenda dos Animais, conhecimentos maiores que, em sociedades modernas – como é lógico! – são reconhecidos aos detentores de graus académicos superiores.
Na Farma dos Animais, onde furtivamente se alimenta o famoso rato Rex que roeu a rolha da garrafa de rum do rei da Rússia, a lealdade e a obediência são fundamentais. Como poderia a UEM furtar-se e desobedecer?
A UEM terá concluido – ó infortúnio! – que uma igualdade por demais rígida em matéria de acesso e obtenção de diplomas seria contrária ao espírito do Animalismo. Havia que abrir uma excepção para a classe dirigente, pois mesmo na Ciência, alguns animais podem ser mais iguais do que os outros...
É o triunfo dos porcos!