Friday, March 03, 2006

 

Quanto vale o mar em Moçambique?



Por Teodósio Bule


O mar desempenha um papel de extrema importância na economia do nosso país. Parece-me, no entanto, que falta a quantificação dessa importância. Se tal quantificação existe, então falta a sua difusão para as massas, para permitir um maior aproveitamento das oportunidades que o mar oferece.

Por diversos motivos, o aproveitamento do nosso mar não tem ido para além da exploração de produtos marinhos comummente conhecidos, como é o caso do camarão, um produto moçambicano mundialmente famoso. A nossa acção no mar continua a ser caracterizada pela exploração dos recursos marinhos que se desenvolvem naturalmente, sem intervenção do Homem. A aquacultura não é ainda prática comum entre nós, salvo um ou outro megaprojecto já aprovado pelo governo.

O turismo em Moçambique está intimamente associado ao mar, mas falta ainda muito a fazer para um aproveitamento satisfatório dessa fonte particular de receitas para o país. Importa aqui alertar para o facto de que me refiro ao aproveitamento das infra-estruturas turísticas já existentes, e não necessariamente à construção de novas infra-estruturas. Sou de opinião de que uma atitude mais racional e concertada na promoção do turismo é que irá determinar a construção de novas infra-estruras e não o contrário.

No âmbito do transporte de mercadorias, temos no nosso mar três dos cinco portos ligados aos dez maiores Corredores de Transportes da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral. De facto, os portos de Nacala, Beira, e Maputo conferem ao nosso país o nobre e privilegiado estatuto de facilitador do comércio regional e internacional.

Nacala, por exemplo, reúne excelentes condições para ser uma plataforma logística internacional, segundo o Dr. Augusto Macedo Pinto, em suas reflexões sobre a localização ideal para um centro de distribuição de mercadorias para África e o resto do Mundo. Para Macedo Pinto, Nacala oferece condições infra-estruturais únicas em África, que permitem que, de forma integrada, seja possível combinar no mesmo local os diferentes meios de transporte de mercadorias: marítimo, ferroviário, rodoviário, e aéreo.

No contexto das novas tecnologias da informação e comunicação, a Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD) tem já em marcha um processo para a instalação de um cabo submarino de banda larga, para servir toda a zona oriental e austral do continente africano. O nosso mar está, naturalamente, na rota desta importante infra-estrutura moderna de comunicação.

Termino com uma referência ao evento que me inspirou na elaboração deste texto. Os académicos de Coimbra, em Portugal, debatem hoje, 3 de Março, a economia marítima, no âmbito da VIII Semana Cultural da Universidade de Coimbra. Eles querem sobretudo saber o valor do mar na economia portuguesa. Tenho a certeza de que irão encontrar muitas respostas úteis, e espero que as suas conclusões reforcem a minha convicção de que o mar que banha Moçambique pode, de facto, abrir novos horizontes.


Este artigo foi inicialmente publicado na coluna "RENASCENÇA", por mim assinada mensalmente, do Caderno de Economia&Negócios do jornal "notícias" (Moçambique), de 3 de Março de 2006.

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