Friday, August 25, 2006

 

Tributo ao Empreendedor Moçambicano



POR Teodósio Bule
Em memória de Vicente Sacaune Magumane Gune

Porque não consigo livrar-me desta mania de ver coisas boas e úteis aqui mesmo em casa, em Moçambique, em África, vou hoje debruçar-me sobre o empreendedor moçambicano, uma vez que o empreendedor é um elemento muito importante na sociedade. Conheci alguns empreendedores, que deixaram obra, e mudaram completamente a vida das suas comunidades. Fizeram-no simplesmente trabalhando, educando, e acreditando.

Vicente Sacaune Magumane Gune era o mais novo, único sobrevivente até 15 de Agosto deste ano de 2006, e pupilo de outros quatro grandes nomes que marcaram a História Económica, Política e Académica de Zavala e Chidenguele do século XX, nomeadamente o próprio pai, Sacaune Gune, bem como Elias Mangujo, Lázaro Magarrafau Cau, e Mussassane Macungo Madede.

Todos eles agricultores, aqueles cavalheiros começaram a evidenciar-se por volta dos anos de 1920, e provaram que reuniam os requisitos necessários para um bom empreendedor. Foram os primeiros (e únicos, até à data) a mecanizar a agricultura na sua região. Reza a história (não confirmada, no entanto), que Mangujo e Mussassane foram respectivamente o quarto e sétimo clientes da Entreposto Comercial de Moçambique.

Alguns teóricos avançam que o empreendedor é, normalmente, alguém que trabalha muito (não poupa esforço, e gosta sobretudo de trabalhar para si próprio, trabalhando para os outros apenas se tiver que aperfeiçoar o seu conhecimento em relação ao produto ou serviço que pretenda oferecer). O empreendedor gosta de resolver problemas, gosta de embarcar em projectos de sucesso.

O empreendedor é optimista. Acredita que é sempre oportuno fazer coisas, e que tudo é possível. O empreendedor move-se, muitas vezes, pelo desejo de alcançar algo verdadeiramente proeminente, de que possa orgulhar-se. O empreendedor gosta de se ver recompensado, mesmo que seja na forma de respeito e reconhecimento.

O empreendedor não foge à responsabilidade moral, legal, e psicológica dos seus actos. O empreendedor é bom na mobilização de recursos produtivos (humanos, acima de tudo) para a concretização de seus projectos. Para o empreendedor, o lucro monetário é importante, mas serve sobretudo para medir o seu sucesso e realização (o altruísmo é também uma das suas qualidades!).

Ora o principal obstáculo aos apelos do Presidente Guebuza para o empreendedorismo nacional na luta contra a pobreza absoluta é que as qualidades acima mencionadas nascem com a pessoa. Assim defendem os principais teóricos do comportamento humano, e a realidade dos empreendedores aqui mencionados parece confirmar essa teoria.

Estamos a falar de um Mangujo, que aprendeu a ler e escrever já tinha mais de quarenta anos de idade. Depois fundou uma escola primária, que ainda hoje forma os melhores alunos de Zavala e Chidenguele. A taxa de aproveitamento dos alunos da escola de Elias Mangujo, nos exames nacionais, era de cem por cento, e com distinção! Isso tanto no tempo colonial (em que “nacional” significava Metrópole e províncias ultramarinas), como durante alguns anos após a proclamação da independência nacional, quando a escola ainda estava sob sua tutela. Mangujo provou que o empreendedorismo não tem idade!

Estamos a falar de um Mussassane, que aliava o seu sucesso no cultivo de milho, amendoim, e mandioca, à produção e fornecimento de materiais de construção, para além de proporcionar meios de transporte de pessoas e mercadorias.

Estamos a falar de um Magarrafau Cau, que depois de perceber que o algodão não dava o que ele esperava, tornou-se imbatível no cultivo e comercialização de tabaco, alho, e cebola.

Estamos, enfim, a falar de Sacaune Gune, e seu filho, Vicente, que aliaram a produção de algodão, amendoim, mandioca, ao fornecimento de água potável às comunidades circundantes.

Mas também pode ser que o Presidente Guebuza seja de opinião de que o empreendedor emerge duma combinação de oportunidades para empreender, com pessoas bem posicionadas para tirar proveito dessas oportunidades. Ou seja, qualquer pessoa que se ache em condições adequadas para empreender pode tornar-se empreendedora, bastando para tal predispor-se a resolver problemas sem esperar ajuda de terceiros.

Neste contexto, a informação desempenha um papel muito importante na criação de oportunidades empreendedoras, e factores como acesso ao capital, e a concorrência, determinam a taxa de empreendedorismo num determinado território económico.

Artigo inicialmente publicado na minha coluna mensal “RENASCENÇA”, do caderno de Economia&Negócios, do jornal “notícias” (Moçambique), edição de 25 de Agosto de 2006.

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